O Grimório de Elek

Saudações amigos bruxos. As páginas que seguem são reflexões do Bruxo e Sacerdote do Coven Triluna, Elek Ophelus. Convido vocês a unirem-se a mim nessa jornada de auto-conhecimento e equilíbrio com nossa Mãe-Terra. Aqui divido singelos saberes adquiridos através de estudos acerca da Arte e dos fundamentos da Religião da Grande Mãe. Sejam bem - vindos! Blessed be!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Video - Aula sobre Wicca




Aproveitem a aula acerca da Wicca, como uma religião elaborada a partir de um amálgama de conhecimentos esotéricos e panteões da antiguidade pagã. Boa aula!

sábado, 25 de dezembro de 2010

Una rosa es una rosa

Uma música que amo muito, e que aqui oferto a todos...


Es por culpa de una hembra
que me estoy volviendo loco
No puedo vivir sin ella
pero con ella tampoco

Y si de este mal de amores
yo me fuera pa la tumba
a mí no me mandéis flores
que como dice esta rumba

Quise cortar la flor
más tierna del rosal
pensando que de amor
no me podría pinchar
y mientras me pinchaba
me enseñó una cosa
que una rosa es una
rosa es una rosa...

Y cuando abrí la mano
y la deje caer
rompieron a sangrar
las llagas en mi piel
y con sus pétalos
me la curó mimosa
que una rosa es una
rosa es una rosa...

Pero cuanto más me cura
al ratito más me escuece
porque amar es el empiece
de la palabra amargura

Una mentira y un credo
por cada espina del tallo
que injertándose en los dedos
una rosa es un rosario

Cuando abrí la mano
y la deje caer
rompieron a sangrar
las llagas en mi piel
y con sus pétalos
me la curó mimosa
que una rosa es una
rosa es una rosa...

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Noite Feliz em Gaélico




O Vídeo e a letra que seguem são a adaptação para gaélico que Enya fez para Noite Feliz. Um Bom Natal a todos.

Oiche chiuin, oiche Mhic De,

Cach 'na suan dis araon.

Dis is dilse 'faire le speis

Naion beag, leanbh ceansa 'gus caomh.



Criost, 'na chodladh go samh.

Criost, 'na chodladh go samh.



Oiche chiuin, oiche Mhic De,

Aoiri ar dtus chuala 'n sceal.

Alleluia aingeal ag glaoch.

Cantain suairc i ngar is i gcein.



Criost an Slanaitheoir Fein.

Criost an Slanaitheoir Fein


quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A Instrução do Deus



Sou o radiante Deus dos céus, que inunda a Terra de valor, e guardo a semente oculta da criação, que irá germinar e manifestar- se. Levanto minha lança brilhante para iluminar a vida de todos os seres diariamente trago meu ouro à Terra, fazendo retroceder os poderes da escuridão. Sou o senhor das coisas selvagens e livres. Corro pelo campo com o cervo e me elevo como os sagrados falcões nos céus resplandecentes. Os antigos bosques e lugares selvagens emanam meus poderes e os pássaros em vôo cantam a minha sacralidade. Sou a última colheita, que oferece frutos e grãos para que todos se alimentem. Porque sem plantio não há colheita, sem inverno não há primavera. Adorem-me como o Sol da Criação, de mil nomes, o espírito do Cervo Astado, a colheita sem fim. Vejam no ciclo anual dos festivais meu nascimento, morte e renascimento e saibam que esse é o destino de toda a criação. Sou a centelha da vida, o Sol radiante, o Doador de paz e do descanso e envio meus raios para abençoá-los, iluminando os corações e fortalecendo as mentes de todos.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O Encargo da Deusa



Ouça as palavras da grande mãe, que, em tempos idos, era chamada de Ártemis, Dione, Melusina, Afrodite, Ceridwen, Diana, Arionrhod, Brígida e por muitos outros nomes:
“ Quando necessitar de alguma coisa, uma vez no mês, e é melhor que seja quando a lua estiver cheira, deverá reunir-se em algum local secreto e adorar o meu espírito que é a rainha de todos os sábios. Você estará livre da escravidão e, como um sinal de sua liberdade, apresentar-se-á nu em seus ritos. Cante, festeje, dance, faça música e amor, todos em minha presença, pois meu é o êxtase do espírito e minha também é a alegria sobre a terra. Pois minha lei é a do amor para todos os seres. Meu é o segredo que abre a porta da juventude e minha é a taça do vinho da vida, que é o caldeirão de Ceridwen, que é o graal sagrado da imortalidade. Eu concedo a sabedoria do espírito eterno e, além da morte, dou a paz e a liberdade e o reencontro com aqueles que se foram antes. Nem tampouco exijo algum tipo de sacrifício, pois saiba, eu sou a mãe de todas as coisas e meu amor é derramado sobre a terra.”
Atente para as palavras da deusa estelar, o pó de cujos pés abrigam-se o sol, a lua, as estrelas, os anjos, e cujo corpo envolve o universo:
“ Eu que sou a beleza da terra verde e da lua branca entre as estrelas e os mistérios da água, invoco seu espírito para que desperte e venha até a mim. Pois eu sou o espírito da natureza que dá vida ao universo. De mim todas as coisas vêm e para mim todas devem retornar. Que a adoração a mim esteja no coração que rejubila, pois, saiba, todos os atos de amor e prazer são meus rituais. Que haja beleza e força, poder e compaixão, honra e humildade, júbilo e reverência, dentro de você. E você que busca conhecer-me, saiba que a sua procura e ânsia serão em vão, a menos que você conheça o mistério: pois se aquilo que busca, não se encontrar dentro de você, nunca o achará fora de si. Saiba, pois, eu estou com você desde o início dos tempos, e eu sou aquela que é alcançada ao fim do desejo.”
Extraído do livro A dança cósmica das feiticeiras

domingo, 19 de dezembro de 2010

Lei Wiccaniana


Lei Wiccan respeita
Perfeito amor, confiança perfeita
Viva e deixa viver
Dá o justo para assim receber
Três vezes o círculo traça
E assim o mal afasta
E para firmar bem o encanto
Entoa em verso ou em canto
Olhos brandos, toque leve,
Fala pouco, muito ouve
Deosil na crescente levanta
E a Runa da Bruxa canta
Widdershins na minguante é o momento
Para a Runa do Banimento
Quando está nova a lua da Mãe
Beija duas vezes Suas mãos
Quando a lua ao topo chegar
Teu coração se deixará levar
Para o poderoso vento norte
Tranca as portas e boa sorte
Do sul o vento benfazejo
Do amor te traz um beijo
Quando vem do oeste o vento
Vêm os espíritos sem alento
E quando do leste ele soprar
Novidades para comemorar
Nove madeiras no caldeirão
Queima com pressa e lentidão
Mas a árvore anciã, venera
Se queimares, o mal te espera
Quando a Roda começa a girar
É hora do fogo de Beltane queimar
Em Yule, acende tua tora
O Deus de chifres reina agora
A flor, a erva, a fruta boa
É a Deusa que te abençoa
Para onde a água correr
Joga uma pedra para tudo ver
Se precisas de algo com razão
À cobiça alheia não dá atenção
E a companhia do tolo, melhor evitar
Ou arriscas a ele te igualar
Encontra feliz e feliz despede
Um bom momento não se mede
Da Lei Tríplice lembre também
Três vezes o mal, três vezes o bem
Quando quer que o mal desponte
Usa a estrela azul na fronte
Cultiva no amor a sinceridade
Para receber igual verdade
Ou um resumo, se assim preferes:
'Se nenhum mal causar,
faz o que tu queres'.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Ritual para entrar em contato com o mundo feérico




A Tradição das Fadas ou Fairy Wicca, a qual sou iniciado, é uma tradição belíssima que visa estabelecer um contato direto com os Sidhe – o povo antigo e mágico que habitou as ilhas britânicas, e que caiu no imaginário popular através de canções, lendas e da própria literatura inglesa que é bastante rica em histórias sobre o mundo das fadas. O ritual que descrevo abaixo descreve uma maneira simples de estabelecer-se um primeiro contato com o povo feérico.
Materiais

  • 1 vela para cada quadrante sendo uma branca para o quadrante leste, uma vermelha para o quadrante do sul, uma azul para o quadrante oeste e uma verde para o quadrante do norte;
  • 1 vela prateada para o altar central;
  • Flores para o altar (é muito importante que as flores sejam do seu agrado, pois a empatia que elas lhe causam será decisiva na execução do ritual);
  • 4 rosas , sendo uma amarela, uma vermelha, uma rosa e uma branca;
  • 1 pacote de balas vermelhas;
  • Incenso de framboesa;
  • Essência de Flor do Campo;
  • Oferendas para a Rainha Elfame. É importante que você ofereça pelo menos uma coisa que é cara a você, além de coisas doces e/ou bonitas, como bolos ou pães de mel, frutas, flores, trigo, algodão de paineira e doces em geral agradam muito os seres do mundo faerico;
  • 1 caldeirão;
  • Ervas (alecrim, bétula, camomila, melissa e erva-doce)
  • 1 giz branco;
  • 1 vassoura consagrada para a limpeza do espaço;
  • 1 atame, espada ou varinha para traçar o círculo.

Passos para a realização do Ritual

    Realize o ritual preferencialmente na lua nova, se for a primeira vez que você está tentando um contato com o mundo faerico. Na lua nova as fadas estão mais brandas e geralmente fadas mais jovens se apresentam no círculo como as ban-tee (estas palavras têm o significado literal de dona de casa. As fadas Ban-tee podem ser encontradas a vigiar as crianças e os pequenos animais de estimação. Dizia-se na antiguidade que executavam todas as tarefas das mães quando estas estavam demasiado cansadas ou enquanto dormiam. Nessa altura eram elas que protegiam as crianças, evitando que corresse qualquer tipo de risco. A fada Ban-tee adora morangos frescos, cremes doces e tudo o que pede em troca destas guloseimas é que a deixem vigiar o lar)  e as brownie (de origem escocesa, tem um aspecto físico pouco feminino, a pele escura e aparece sempre vestida de verde, azul ou castanho, com uma pequena capa sobre os ombros. Procura um ser humano que aceite os seus préstimos e dedica-se a ele para toda a vida. Mas para que isso aconteça a pessoa tem de ser humilde, simpática e meiga. É esta fada que pode afastar de casa todos os maus espíritos. Procura sempre uma casa quente, mas não admite a existência de gatos. Adora receber como presentes leite, mel e pequenos objetos feitos em madeira) . Procure colocar uma música bem alegre enquanto prepara o local para o ritual pois as fadas adoram dançar e adoram alegria. Isso faz com que seja tremendamente importante que você esteja bem consigo mesmo e feliz ao realizar esse ritual. Fazer o mesmo zangado, triste ou pesaroso pode trazer sérias conseqüências. Você não vai querer nenhuma fada Ban-shee (os escoceses a denominam de Bean-Nighe. Ela é um espírito da morte Irlandês. Tem os cabelos muito longos e seus olhos são vermelhos e molhados por estar sempre chorando. É a mensageira da morte, quando alguém a vê, sabe que sua morte é próxima) rondando seus aposentos.
    Trace um círculo grande contornando ele com giz e depois depositando as balas vermelhas no contorno do círculo. Ele deve ser grande o bastante para caber você e o altar no centro. Depois de organizar o espaço para o ritual unte as velas com a essência de flor do campo destinando cada uma para o seu quadrante. Acenda o incenso de framboesa no quadrante leste e acenda a vela prateada no altar central. O altar deve estar voltado para o seu elemento de poder. Se você ainda o desconhece não realize esse ritual, pois é muito importante que você esteja afinado com seu elemento durante a invocação da Rainha de Elfame que costuma consagrar seus sacerdotes com insígnias elementais depois de desafiá-los em seus respectivos elementos de poder. São muitas as histórias de pessoas que por não terem domínio de seu elemento acabam estourando canos, ou explodindo objetos, e com a presença das fadas isso pode se agravar.
    Coloque as oferendas próximas do caldeirão e acenda as velas dos quadrantes. Dirija-se ao quadrante leste dizendo.
Ventos antigos e sagrados
Suspiros de fadas
Hálito dos faunos
Ruflar das asas das borboletas
Venham todos até mim
Eu os convido e os saúdo
Eu os convido e os festejo
Estejam comigo neste ritual
Guardião da Torre do Leste
Defenda este quadrante


Dirija-se ao quadrante do sul, dizendo
O grande chama de Litha
Fogueira sagrada onde dançam as fadas
Fadas escarlates que com guinadas de chamas
Abrem seus caminhos até mim
Eu os convido e os saúdo
Eu os convido e os festejo
Estejam comigo neste ritual
Guardião da Torre do Sul
Defenda este quadrante


Dirija-se ao quadrante do oeste, dizendo
Ondas que dançam sobre os mares
Cascatas que caem sobre as rochas
Sereias de canto noturno e cabelos ondulados
Ondinas e fadas das águas
Dancem através das águas e venham até mim
Eu os convido e os saúdo
Eu os convido e os festejo
Estejam comigo nesse ritual
Guardião da torre Oeste
Defenda este quadrante


Dirija-se ao quadrante do norte, dizendo
Gnomos que correm sob a terra
Trolls que pisam firme sobre o chão
Ents e fadas protetoras das árvores
Lancem suas raízes e protejam esse quadrante
Eu os convido e os saúdo
Eu os convido e os festejo
Guardião da Torre Norte
Defenda esse quadrante
    Aqui é claro, você está livre para recriar de uma forma singela, que toque o seu coração as invocações sugeridas. Caso já conheça os guardiões de seus quadrantes convide-os a participar deste ritual. Contudo as fadas preferem que os rituais a elas destinados sejam elaborados dentro de uma egrégora feérica, portanto procure não misturar arquétipos de campos imagéticos muito distantes do ritual a que você está se propondo.
   


    Uma vez invocados os quadrantes você deve se dirigir ao centro e no altar montado a Rainha Elfame. Acenda a vela prateada e invoque o poder desta face da Grande Mãe, que busca despertar nosso contato com os elementos primordiais da natureza. A Rainha de Elfame é considerada a mais bela e poderosa das fadas, e a ela cabe a responsabilidade de despertar nosso Eu Mágico, muitas vezes confiando a uma de suas filhas nossa guarda e proteção.
    Acenda o caldeirão no centro e delicadamente vá depositando as ervas e as pétalas das flores, enquanto você invoca Elfame, com as palavras que seu coração sugerir no momento. Peça a proteção dela, e explicite seu desejo de entrar em contato com o mundo faerico. Medite por algum tempo e se sentir vontade dance e cante. A música alegre e a dança vivaz são excelentes chamarizes para o povo Sidhe. Quando sentir uma energia delicada percorrer seu corpo todo, arrepiando sua nuca e dando a você uma intensa sensação de bem-estar, pode estar certo de que você está entre as fadas.
    Aproveite para fazer suas ofertas e convide delicadamente as fadas, enquanto dança com essa energia nova que adentrou seu círculo mágico, para trazer magia, doçura, alegria e bem-estar a você e todos que você ama. Dance, até sentir que seu corpo não pode mais agüentar o frenesi da energia feérica, para por fim, entregar-se ao chão, e, enquanto recupera seu fôlego, você será reavivado pela energia benéfica das fadas.
    Quando sentir que sua pulsação e respiração voltaram ao normal, agradeça o contato estabelecido e faça uma pequena meditação, agradecendo a Rainha Elfame pela dádiva de se fazer presente em seu círculo mágico. Depois convide o povo faerico a voltar para os bosques, dispensando os quadrantes e fechando os mesmos. Use as balas que circundaram o altar de Elfame, e parte das oferendas para plantá-las com a flor de sua escolha em um vaso. Esse vaso será muito importante, pois ele será sua ponte de conexão com as fadas. Cuide muito bem dessa flor, pois enquanto ela estiver viva, sua relação com o povo feérico também estará. Bom ritual. Blessed be!


sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A Espada que Abate o Cálice: O Mito Arturiano e seus Desdobramentos Contemporâneos


     
     Encarado como discurso, fala ou narrativa, o mito é geralmente compreendido como uma forma das sociedades expressarem de forma anímica suas dúvidas, anseios e contradições. É ainda muitas vezes apontado como um esforço interpretativo do mundo ou como uma alternativa para uma reflexão sobre os fenômenos da vida e da morte, assim como da relação do homem com seus semelhantes e com o universo que o cerca. A narrativa mítica assume um caráter alegórico, pois ainda que seu enredo esteja vinculado ao maravilhoso e a fantasia, ela deixa entrever sob os véus de sobreposições imagéticas, fatos que se relacionam com a natureza e o pensamento histórico e filosófico.
            Podemos dizer então que o mito traz em si um caráter hermético que desafia seu interlocutor, tal qual a esfinge a Édipo, a decifrá-lo. As histórias que são tramadas formam uma complexa teia onde os diversos caminhos se cruzam e entrecruzam tecendo imagens muitas vezes intransponíveis. A investigação e a compreensão do fenômeno simbólico em narrativas míticas podem ser comparadas ao trabalho de um domador de cavalos. O pesquisador, no entanto, não tentará domar um potro, mas sim o alado Pégaso que, com suas asas grandiosas, torna-se fugidio, obrigando o domador a segui-lo por regiões pantanosas na esperança de laçar-lhe o pescoço, para então, com os olhos escancarados, vislumbrar por alguns segundos o mundo lá no alto, antes de tombar no chão e afundar no pântano novamente.
            A narrativa mítica está ligada há um tempo no qual a cultura estava centrada na oralidade e a palavra estava vinculada a um conceito mágico-religioso. A concepção da mitologia em si não pode então ser distanciada da compreensão religiosa e ritualística dos povos ditos primitivos. Segundo o autor Fernand Robert em seu livro A religião grega, o mito surge freqüentemente para explicar um determinado rito, pois a religião, para os antigos, não está concentrada na palavra, mas sim em determinadas ações que a palavra gera – o que transforma o conceito de palavra em um ato físico que manifesta algo no universo. Acredito que a proposta do autor de estudar o rito como a verdadeira origem do mito é seguramente uma das melhores formas de compreendermos o fenômeno mitológico e sua transição após a ascensão da escrita e a laicização da palavra mágico-religiosa.
            Mas voltemos ao nosso cavalo alado. Para compreendermos o mito seria sensato recorrer ao estudo da ritualística dos povos e à comparação das diversas histórias que desses provêm, pois então constataríamos o que mitólogos universalistas como Joseph Campbell e Mircea Eliade têm afirmado, que os mitos revelam o funcionamento interno do psiquismo humano ou, como afirma David Leeming,

(...) os mitos são ao mesmo tempo sonhos coletivos culturais e universais, que muito podem nos dizer não apenas sobre quem e o que são as culturas, mas sobre quem e o que somos como espécie. (LEEMING, 2003, p. 10)

            Para o mitólogo Joseph Campbell a função da mitologia sempre foi a de fornecer os símbolos que auxiliam o indivíduo humano a compreender o mundo que o cerca e o levar a uma jornada de evolução, opondo-se a todo o tipo de ilustração que o possa levar à regressão, ou à negação de sua essência humana. Campbell diz que o mito é

(...) a revelação de uma plenitude de silêncio no interior e em torno de todo o átomo da existência; é algo que se dirige a mente e o coração e por meio de figurações cuja forma vem do plano profundo, para aquele mistério último que preenche e cerca todas as existências. (CAMPBELL, 2003, pg. 263).


            Com o advento da escrita o mito perde suas características orais, mas não sua força simbólica, e, os fenômenos cíclicos de uma sociedade fechada e voltada para a tradição e a apreensão do mundo pela oralidade dão lugar ao logos e em seguida aos germens dos questionamentos estéticos que desembocam nas sociedades moderna e contemporânea. Mas será que em um mundo de culturas partidas e sociedades estratificadas como o que vivemos, no qual a coisificação do homem se tornou um clichê, um lugar-comum, ainda há espaço para o mito? Será que em um mundo que gira em torno dos avanços tecnológicos em detrimento dos avanços sociais ainda encontramos um espaço para a discussão da simbologia de uma imagem? Acredito que a resposta para tais questionamentos encontra-se no âmago da própria sociedade que os gerou. O homem de tantos avanços percebeu através dos últimos séculos que não está no limbo que o leva para além do bem e do mal, e que o excesso de racionalismo o levou para um lado só da balança causando uma série de desequilíbrios na formação de sua integralidade enquanto ser humano. Roberto Calasso acredita que
(...) podemos entender as histórias míticas, mesmo quando chegam até nós fragmentadas e mutiladas, soam familiares e diferentes de todas as outras histórias. Aquelas histórias são uma paisagem, são a nossa paisagem, simulacros hostis e convidativos que ninguém inventou, que continuamos a encontrar, que de nós esperam só ser reconhecidos. Assim, agora podemos confessar-nos o que era, o que é aquele antigo terror que as fábulas continuam a incutir. Não é nada diferente do terror que é o primeiro de todos: o terror do mundo, o terror perante seu enigma mudo, enganador, opressivo.Terror diante deste lugar de metamorfose perene, da epifania, que inclui primeiro a nossa mente, onde assistimos sem tréguas à dança dos simulacros. (CALASSO, Os 49 Degraus)
O mito arturiano está atrelado a tais concepções acerca do fenômeno mítico desde seu primeiro aparecimento em Historia Brittonum escrita por Nennius no século IX e por seus desdobramentos nos séculos que seguem através do Romanzo Medieval. O Romanzo Medieval ou Romance de Cavalaria sofreu uma série de transformações que acabaram por sufocar sua pluralidade de vozes narrativas - uma característica até então comum a tal gênero literário - transformando essa multiplicidade de eixos em uma única voz, com a posterior tradução, assimilação e transposição para o gênero da prosa dos mesmos pelos monges católicos durante o medievo. As Lendas Arturianas compreendem um período histórico bastante extenso, atingindo grande popularidade, inclusive para além das fronteiras britânicas, quando da publicação de A História dos Reis Britânicos de Geoffrey de Monmouth em 1136.
O locus de enunciação no mito Arturiano passa por um processo de transferência de um contexto pagão, ou pré-cristão, para um cenário impregnado dos valores estéticos e morais do cristianismo. Cabe aqui retomar a raiz do termo pagão, que em sua origem remete ao vocábulo latino pagannus, o homem do campo, e a paganálias, as festas rurais realizadas nas aldeias em honra a divindade Ceres. Ambos os conceitos distanciam-se da definição de pagão como aquele indivíduo não batizado. Contudo, o conjunto de narrativas geradas pelo ciclo de mitos alusivos ao Rei Artur estabelece uma teia complexa em que múltiplos narradores têm concebido, através de uma apropriação de tal discurso mítico, discursos contemporâneos possíveis.
Tais discursos estabelecem aproximações e distanciamentos perante a imagem arquetípica de Arthur como o grande rei messiânico, que tal como a figura do cristo retornará dos mortos para salvar seu povo escolhido. Jacques Le Goff define a imagem de Arthur como

(...) mais do que um guerreiro e um cavaleiro, Arthur é a encarnação mítica do líder por excelência das sociedades políticas medievais.

Escritores coevos como Marion Zimmer Bradley, autora de As Brumas de Avalon e Bernard Cornwell, autor da trilogia intitulada As Crônicas de Arthur, revisitaram as lendas Arturianas abrindo brechas no tecido discursivo que havia cristalizado a imagem de um Artur puritano e cristão, apoiado por seus fiéis cavaleiros, num cerrado regime antitético em que a mulher ocupava três papéis possíveis – a virginal donzela que aguarda o retorno de seu amado, a esposa infiel que traz a desonra para todos do clã, ou ainda a figura da feiticeira diabólica que pretende tomar o poder para si. Bradley e Cornwell, fomentados por diferentes ideologias, apropriam-se de tais mitos traçando dois instigantes retratos da relação da mulher e do homem medieval com a terra e o divino, tecendo discursos que se apresentam como práticas de significação, depositadas em ideologias dessemelhantes que repousam sua atenção sobre um mesmo problema: a destruição massiva das crenças pagãs do homem rural pela religião cristã.
É importante também ressaltar como as obras Bradley e Cornwell apresentam as relações sociais imbricadas a um conceito de divino que está fortemente ligado a ciclos agrários, e que, portanto adotam uma postura de respeito e veneração pela natureza. A ética das personagens e o relacionamento das mesmas com a Terra e as outras espécies estão condicionados a modelos religiosos que tinham uma visão contrapesada entre suas deidades, promovendo um equilíbrio entre o que se convencionou chamar, especialmente no lastro teórico dos estudos do imaginário, um princípio gerador masculino e feminino. O esforço interpretativo e artístico dos autores acaba por compor duas ficções distintas estética e ideologicamente, mas que trazem em seu bojo uma denúncia semelhante – depositando a figura de um Deus patriarcal fora da natureza proporcionou-se uma lógica que justificasse o saque desenfreado aos recursos da Terra, e o sobrepujamento do homem sobre as demais espécies. O homem contemporâneo percebe somente agora, quando os saldos da poluição e do aniquilamento ecológico tornaram-se graves o suficiente para ameaçarem até mesmo a adaptação urbana da humanidade, a importância do equilíbrio ecológico e a interdependência de todas as formas de vida.
O nosso relacionamento com a Terra e todas as demais espécies que dividem este espaço conosco tem sido condicionados pelos modelos religiosos, e estes por motivos míticos atrelados a rituais que promovem simbologias de poder diante dos homens e diante do mundo.  Os deuses pagãos estabelecem na obra de Bradley e Cornwell um modelo de divindade anímica e imanente a natureza, que muito se aproxima das sociedades indígenas e xamãnicas, e que, portanto não deposita suas divindades em um além mundo, mas sim no mundo natural. Assim a ficção de tais escritores apropria-se do mito arturiano dando uma nova verve ao mesmo, estabelecendo um diálogo entre os modelos religiosos vigentes e o relacionamento dos mesmos com o planeta e as espécies que o coabitam com o homem. As obras de Bradley e Cornwell excitam uma discussão que se faz urgente, costurando uma relação entre os saberes literário, mítico, religioso e ambiental apontando questionamentos que provoquem uma reflexão profícua sobre a relação entre mito, literatura e sociedade e a apropriação dos mitos por discursos ideologicamente engajados e como tais discursos provocam uma avaliação acerca da problemática ambiental e do futuro do homem na Terra.

 

Olhe para as flores


    A dança dos Deuses conduz nossos passos por caminhos que nem sempre são aqueles que aguardávamos ou para os quais estamos preparados. Muitas vezes, tarefas árduas batem à nossa porta e exigem ser decifradas, dissolvidas e libertas. A tarefa de auxiliar nossos irmãos de jornada não é simples pois exige muita reflexão. Conselhos não devem ser dados sem uma séria reflexão. Tolkien dizia que conselhos são perigosos mesmo de sábios para sábios. Então como aconselhar alguém? Como entender a alteridade que se posta diante de mim e que me pede auxílio, pois julga estar em mim a resposta para suas dificuldades?
    Antes de mais nada é preciso respirar, e deixar que o ar traga pra dentro o poder da reflexão e leve embora as nuvens que podem nublar nossas idéias. Não devemos tomar atitudes impensadas, ou mesmo atitudes imediatistas nos momentos em que estamos com raiva, medo, ciúmes, rancor ou tristeza. Nenhum desses sentimentos é bom conselheiro, e eles sempre motivam o pior de nós. Quando um desses sentimentos tentar te aconselhar esteja sempre alerta, e tenha por perto mecanismos que possam te ajudar a esvaziar-se de tudo que te aflige. Eu, particularmente amo flores. Gosto muito de ter flores pero de mim, e, sempre que me encontro em uma posição que sei que posso perder o controle, olho para elas - as flores. Apenas olho, sem pensar em nada. Respiro enquanto adimiro a perfeição das pétalas e o colorido aquarelável que as tinge de beleza. Essas pequenas e adoráveis criaturas são como os dedos de Gaia, que pode acalentar através do toque e do perfume que exalam. Portanto, a próxima vez que você sentir que vai perder o controle, olhe para as flores e respire. Tente estabelecer um contato verdadeiro, vazio de julgamentos, com esses pequenos seres. Elas podem responder e acalentar você, desde que sua sensibilidade esteja aberta para elas. Blessed Be!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Sabbat de Litha


Quando o dia é mais longo,
Pessoas, campos e rebanhos prosperam;
A luz do Sol é mais forte
Alimenta tudo o que vive.
A Bétula imponente, tão esplêndida,
Traz consigo todas as coisas boas.
A fogueira de verão é acesa
Como um gêmeo do brilhante Sol.


Assistam ao vídeo no link abaixo para uma breve aula a respeito do Sabbat de Litha.